segunda-feira, 26 de março de 2018

JOANINHA ESTÁ FELIZ



Joaninha está de férias. Chegou a Páscoa. Ei-la ao lado da mãe a ajudar nas lidas da casa.
Curiosa, passa o tempo a questionar como se faz isto, como se faz aquilo. A mãe, pacientemente, lá vai explicando tudo com carinho, ao pormenor.
No fim, Joaninha chega-se à mãe para ver o seu quarto. Tudo arrumadinho:
- Mãe, Gostas? Vê, cada coisa no seu lugar. Roupa arrumadinha nas gavetas e no armário, nada espalhado ao-deus-dará.
- Parabéns, minha filha, estou orgulhosa. Sabes? Eu também fazia assim com a tua avó. Ela gostava tanto que com o tempo até me ensinou a fazer casaquinhos de lã para as minhas bonecas!
- Oh! Também quero aprender. Ensinas-me?
- Claro, Joaninha, o saber não ocupa lugar, já dizia a tua avó. Agora que tens uns dias de férias, vamos aproveitar para te ensinar algumas coisas de que vais gostar. Mas nada de descurar os estudos, combinado? Amanhã vamos à cidade, vamos à lojinha do senhor Manuel. Ele lá tem de tudo: novelos de lã, agulhas, olha e tem lá coisas muito bonitas. Tu escolhes as cores que mais gostares.
- Está bem, mãezinha, obrigada.
E Joaninha começou a trautear uma canção que que lhe veio à mente enquanto ajudava a mãe na lida da casa. Pôs-lhe o nome de trá-la-ri-lo-lé e disse à mãe:
- Posso ir até ao jardim brincar com a minha amiguinha Joaninha-voa-voa?
- Está bem, vai mas não te afastes. Quero ver-te sempre que espreito pela janela, sim?
- Está bem, mãe, prometo portar-me bem.
E lá foi trauteando o trá-la-ri-lo-lé pelas escadas abaixo. De repente, ouviu chamar:
- Joaninha, Joaninha, trago uma coisa para ti.
Era a Joaninha-voa-voa que, de tanto voar, chegada cheia de cansaço, deixando escapar uma mensagem escrita num papel perfumado com cheirinho a sabugueiro.
- Sabes de quem é? Da Liliana Neto, da Granja Nova.
Era um convite para Joaninha visitar Tarouca. Joaninha ficou tão emocionada que quase nem tinha forças para chamar a mãe. Respirou fundo e, recomposta da surpresa, gritou:
- Mãaaaaeeeee, vem cá!
A mãe, não sabendo o que se passava, largou tudo e correu pelas escadas abaixo aflita.
- Que foi? Que foi?
- Ai, mãe, nem vais acreditar! A joaninha trouxe-me esta mensagem de Tarouca para mim.
-Verdade? Até me assustaste, miúda! Mostra lá a mensagem.
- É da Liliana. Tem um nome bonito a minha amiga, não tem?
- Tem sim, filha, continua.
- Ela convidou-me para me mostrar a Igreja Matriz, o Miradouro de Santa Catarina e tantas coisas mais, mãe. Olha, vai haver a Feira de Santo António, corridas de cavalos, uiiiii. Estou tão feliz, mãe. É em Granja Nova. Posso ir?
- Sim, vamos pensar nisso. A seu tempo vamos lá. Em Maio temos lá um valente programe. Vale a Pena. E em Setembro vamos ter a Feira, mãe. A minha professora disse que eu tinha melhorado muito neste período. Quando fores ver as notas vais ter uma surpresa.
- Bem espero, Joaninha, espero que boa.
Vai ser, sim, mãe, confia.
Está bem, vou confiar. Se não tiveres boas notas, não há Tarouca para ninguém.
- Não me ias fazer isso, pois não, mãe? Sabes que há um senhor que vive em Tarouca e que é um grande amigo meu? O senhor António Sorrilha, de Granja Nova! Disse-me que em tarouca todos querem conhecer a Joaninha.
- Ai, Joanita, sempre a inventar.
- É verdade, vai ver os comentários no facebook, na história da Joaninha vai a Tarouca.
- Eu vi, miúda. Está bem. Já agora, quem te autorizou entrar no facebook. Sabes que não tens idade para andar lá?
- Tinhas a tua página aberta e eu, por curiosidade, estive a ler.
Ai, ai, a menina está a ficar muito curiosa.
- Não me vais castigar, pois não, mãe?
- A curiosidade assusta o gato, sabias?
- Isso quer dizer o quê?
- Bem, esquece. Mas ganha juizinho nessa cabecinha tonta.
- Está bem, não volta a acontecer (se não calhar – pensou). Ena, mãe, falaste-me em esquecer e não é que me esqueci da Joaninha-voa-voa lá fora? Tadinha!
- Está bem, bem sei o que tu queres, vai lá ter com a Joaninha. Às tantas está para lá a cantar o teu trá-la-ri-lo-lé.
E lá se foi a pequena cantarolando. Procurou mas já não encontrou a amiguinha.
-Ó, já foi. Terá ficado zangada comigo? Afinal, foi ela que lhe trouxe essa notícia boa.
Regressou a casa com o coração aos saltos.
- A joaninha já não estava, mãe – disse triste – Achas que vai voltar?
- Claro que volta. Os bons amigos voltam sempre.
- Deve ter ido levar novidades a Tarouca.
- Ai, miúda, agora só pensas em Tarouca.
 - Mãe! Eu sou madrinha de Vila Chã da Beira e Granja Nova, sabias? Não podemos esquecer. As meninas de lá são todas afilhadas.
- Lá se vão as tuas economias só para as amêndoas – gracejou a mãe – Guarda esse fôlego para quando lá fores.
- Tens razão. Não tinha pensado nisso das amêndoas. E se me pedem o folar? Bem, depois vemos isso. Sabes? Vai lá estar um senhor que faz bué de poesia. Tem um apelido esquisito, Sepúlveda, que grande cena. Dizem que tem um grupo chamado Solar de Poetas. Onde ficará esse Solar? Em Tarouca? De certeza que vai gostar de mim e da minha Joaninha. Ele disse-me para ir, que Tarouca Vale a Pena.
- Chega por hoje, vamos descansar, menina. Caminha, caminha, hora de dormir.
Bons sonhos, com Tarouca, já sei – sorriu – Boa noite, Joaninha.

Joana Rodrigues


Sem comentários:

Enviar um comentário